“Meu objetivo é construir uma empresa baseada no amor, e não no medo!” é o que afirmou, certa vez, o CEO de uma empresa de U$16 bilhões, 70.000 funcionários, que por 20 anos consecutivos, se manteve na lista das melhores para se trabalhar, além de ser uma das mais admiradas do planeta. Há dois anos ela foi comprada, e a fusão começou a gerar confusão. Há rumores de funcionários chorando, um grupo já se mobiliza pela sindicalização e há erosão da cultura. (1)
Aquele CEO agora está vendo o medo, que ele não queria, deteriorar o autoamor, a autoestima de seus funcionários.
Em que medida houve preparação para a mudança? Como evitar o risco do fracasso do sucesso? A lógica dos negócios frequentemente se choca com a lógica humana. Um sábio conselheiro, nos anos 80, já sublinhava uma dica perene: o que é lógico não é psicológico!
Quantas organizações já enfrentaram, enfrentam ou enfrentarão desafios semelhantes?
Empresas são organismos vivos: precisam de nutrição e exercício diário, permanente, para ter saúde e “músculos” fortes. Caso contrário, elas adoecem: o clima se deteriora, aumentam os conflitos e o desânimo, e os resultados do negócios sofrem o impacto.
Ninguém pode considerar-se pronto: pessoas e organizações são seres inacabados. Não se deve nunca interromper o esforço de evoluir. O sucesso do passado nunca garante o sucesso do futuro: é necessário ter coragem e determinação para se reinventar e recomeçar sempre. Como se preparar? Há coisas antigas, que recicladas, nunca perdem seu frescor e atualidade.
“Mudar para melhor, continuamente” é um princípio perene. É a filosofia Kaizen: desafio pessoal e corporativo, no dia a dia.
Uma ferramenta educacional valiosa é o Kaizen Zero (K0), que ajuda pessoas e organizações a iniciar um processo de mudança e desenvolvimento. O K0 define e trabalha um conjunto de valores que inspiram a vivência e fortalecem as pessoas em todas as esferas da vida. Valores para criar ou revitalizar a cultura do comprometimento: foco no NÓS (empatia) e não no EU (egocentrismo). (2)
O propósito do K0 é ajudar na construção de relações saudáveis trabalhando valores tais como: autoestima, empatia, afetividade, transparência, alavancagem de soluções, espírito desarmado, “espaços vazios”, postura apreciativa e outros. Vamos destacar o primeiro: a autoestima ou autoamor!
A autoestima ou autoamor é a principal expressão emocional do ser humano. O “quanto” a pessoa valoriza e aprecia, ou desvaloriza e deprecia a si mesma? O “quanto” gosta de si mesma? O “quanto” aceita a si mesma, “amando” em si até o que “não gosta”?
- Qual a consequência da autoestima excessivamente elevada? Arrogância, soberba, o sentir-se superior?
- Qual a consequência da autoestima muito baixa? Sentimento de inferioridade, insegurança, baixa autoconfiança?
- E qual o resultado desses dois jeitos extremos de se comportar e sentir nas diversas relações da vida: no trabalho, na família e na sociedade? E se a pessoa tem função de chefia ou exerce papel de liderança informal? Como a oscilação dos estados de autoestima influenciam e impactam todas as relações interpessoais, dentro e fora do trabalho, repercutindo nos resultados que se deseja alcançar nas tarefas diárias e nos planos de médio e longo prazo? Como a oscilação dos estados de autoestima podem influenciar o resultado de tomadas de decisão em reuniões com clientes, parceiros, sindicatos, etc.?
Essas são algumas das questões que o K0 ajuda a responder visando o autodesenvolvimento de padrões numa faixa de maior equilíbrio, pois excessos para o alto ou para baixo são destrutivos. Nessa faixa de equilíbrio está a humildade, um valor empático, que deveria ser um pilar de qualquer cultura organizacional. Se esta virtude está ausente não se reconhece imperfeições, a necessidade de aprender e a necessidade de mudar.
O foco em valores cria riqueza humana e econômica, mais sustentável, resiliente, e forte para o enfrentamento de grandes mudanças, de toda ordem. Significa por o “como” na frente do “o que”. Isso eleva o desempenho corporativo como demonstrou pesquisa da LRN com mais de 36.000 funcionários, em 17 países. (3)
Para Gary Hamel, apontado pelo Wall Street Journal como o “mais influente pensador de negócios do mundo”, “o que importa agora são os valores”. Ele questionou: porque os ideais mais importantes para o ser humano (como o amor) estão ausentes do discurso gerencial? (4)
Porém, esse questionamento precisa ir muito além: porque esses ideais estão ausentes da prática gerencial? É exatamente para responder a essas oportunas provocações que o K0, o Kaizen Zero, foi criado.
Colaboração de Antonio Carlos A. Telles, Consultor da WCCA.
(1) The Guardian, 16/7/2019 e Harvard Business Review, 30/11/2018
(2) Telles, A. Carlos – ORGANIZAÇÕES DESNORTEADAS? CULTURA DO COMPROMETIMENTO!* Do egocentrismo à empatia corporativa: não “cultura do EU”, mas “cultura do NÓS”