Assédio, Reputação e Autoconhecimento na Sociedade Digital
Onde está a causa-raiz do assédio moral nas organizações? Na qualidade e grau de maturidade das relações interpessoais entre a gerência (topo, média e da base) e os colaboradores? Em grande medida, sim. É preciso mensurar, e agir para prevenir e corrigir. Esse é um desafio cada vez maior, não só para o gestor de Compliance, mas para os gestores de Relações Trabalhistas e de RH. E é, sobretudo, um desafio para maior sinergia dessas três áreas, que atuando juntas, e não isoladas, poderão co-criar um desenho mais completo de iniciativas e políticas de desenvolvimento e autodesenvolvimento desses gestores.
Cabe enfatizar a relevância do estímulo ao autodesenvolvimento, inspirando-nos na reflexão do historiador israelense e filósofo futurista Yuval Noah Harari, ao final de sua entrevista recente no programa Roda Viva, na TV Cultura (1). Segundo ele, o crescimento exponencial do conhecimento e poder tecnológico, com o uso crescente da inteligência artificial, poderá trazer não só benefícios, mas sérias ameaças ao futuro da humanidade. Celebridade no Vale do Silício e adepto da meditação vipassana, Harari afirmou que esse cenário cria, paradoxalmente, uma necessidade única na história da humanidade: nunca foi tão urgente que o ser humano aprenda a conhecer melhor a si mesmo, suas fraquezas e potencialidades.
Harari citou Sócrates, um dos pais da ética que, se fosse, hoje, contratado pelo RH, possivelmente reforçaria a recomendação milenar: “Gestor, conhece-te a ti mesmo!
Há cerca de dez meses um narrador de esporte de um gigante de comunicação no Brasil pediu demissão ao vivo na TV e isso repercutiu em redes sociais na internet. Numa ação trabalhista de R$ 3,8 milhões, ele processou por assédio moral um diretor (veterano com mais de 30 anos na empresa), que foi demitido há poucos dias.
Comportamentos que foram tolerados como normais por décadas podem, hoje, destruir e arranhar reputações pessoais, profissionais e corporativas em segundos. Haverá futuro para as organizações que tem excessivo foco no resultado, investindo em competência técnica, e negligenciando a competência moral? “A organização não deve nomear um indivíduo que considere a inteligência mais importante que a integridade”, ensinou Peter Drucker, o pai da administração moderna.
Para ajudar a criar uma cultura de integridade a tecnologia pode ser um bom aliado, como o compliance hotline que favorece maior transparência. Semanas atrás coordenei encontro no Instituto Compliance Rio que reuniu líderes do setor público e privado, de grandes organizações, que relataram seus esforços para construir novos padrões éticos. Em sua apresentação, o diretor de Compliance e Auditoria de uma delas revelou que desde a implantação do canal de denúncias recebeu cerca de 1.350 reclamações: a grande maioria foi de assédio moral. Porém, muitas vezes, tanto os “reclamantes” quanto os “acusados” desconhecem o significado de assédio: seja como for, o simples registro de centenas de insatisfeitos são fortes indicadores da necessidade de melhoria do clima, em determinadas áreas ou em toda a organização.
O assédio moral é definido como a exposição da pessoa a situações constrangedoras e humilhantes, de forma prolongada e repetida, no exercício de suas funções, criando sérios problemas de desequilíbrio nas relações da pessoa afetada com o ambiente de trabalho e a organização.
Como alertou o CEO da LRN, Dov Seidman, “não é mais O QUE você faz que faz a diferença; é COMO você faz.”. (2)
Autoria: Antonio Carlos A. Telles – Consultor WCCA e LRN
Colaboração: Guilherme Carvalho –Gerente Negócios WCCA
- https://www.youtube.com/watch?v=pBQM085IxOM
- HOW – Dov Seidman, 2011, p.56